De acordo com a plataforma digital SmartLab, no período de 2000-2018 o Brasil registrou 623,8 mil incidentes de trabalho. Isso demonstra a importância da comunicação de incidentes como desafio da cultura organizacional.
Em se tratando de vidas humanas, uma apenas já seria muito no ambiente de trabalho.
Os números são alarmantes, quando se fala em concessões de benefício previdenciário-auxilio doença por acidente de trabalho (B91)-154,8 mil e 7,5 mil aposentadorias por invalidez por acidente do trabalho (B92) em 2018, no Brasil (SmartLab, 2020).
A estatística oficial é assustadora, mas se pensarmos nas sub-notificações, o número seria exponencial, comparado ao oficial.
O que é incidente?
Algumas definições de acordo com a ISO:
- 22300:2012-situação que pode ser ou pode levar a uma interrupção, perda, emergência ou crise.
- 28007-1:2015-evento que tenha sido avaliado como tendo um efeito real ou potencialmente adverso.
- 45001:2018- ocorrência decorrente, ou no decorrer, de um trabalho, que pode resultar em lesões e problemas de saúde.
Um incidente em que ocorrem lesões e problemas de saúde algumas vezes é referido como um “acidente”.
Um incidente em que não ocorrem lesões e problemas de saúde, mas há potencial de ocorrer, pode ser referido como “quase acidente”, “quase perda” e “ocorrência perigosa”.
O que é acidente?
En conformidade com a norma ISO 14620-1: 2018, trata-se de um evento indesejado resultante da operação de qualquer item específico do projeto que resulte em:
- morte ou ferimento humano;
- perda ou dano a hardware, software ou instalações que possam afetar o cumprimento da missão da organização;
- perda ou dano a propriedade pública ou privada; ou
- efeitos prejudiciais ao meio ambiente
Para a norma incidente ISO 21101:2014 considera-se acidente, um incidente que resultada em morte, doença, lesão ou outro dano.
Comunicação é a chave da mudança
Quando ocorre um incidente, a existência de um plano e procedimentos de comunicação eficazes desempenha um papel vital na eficácia de uma organização. Os planos de comunicação de incidentes são especialmente importantes ao gerenciar ativamente uma situação e avaliar onde as coisas estão em um determinado momento.
Porquê comunicar os incidentes?
Aqui, nos referimos aos “quase acidente”, “quase perda” e “ocorrência perigosa” .
Quando se refere aos não acidentes, não é tarefa fácil encontrar estatísticas reais dos números desse universo. Não se tratando de exigência legal, existem os que justificam ignorá-los, e manter a resistência à mudança.
Importância da comunicação de incidentes
A importância de comunicar incidentes (quase-lesão, ocorrências perigosas ou quase acidentes) já foi estudada e relatada por grandes pesquisadores, como Frank Bird (1966), que analisou os resultados gerais de mais de 1.000.000 de incidentes, e criou um modelo (Imagem 1) para demonstrar seus resultados, e de acordo com seu estudo; os incidentes em que não há lesão visível ou dano ocorrem com mais frequência do que os incidentes em que uma lesão grave.
O estudo demonstrou uma relação entre: um acidente com ferimento grave com 10 acidentes com ferimentos leves (apenas primeiros socorros), com 30 danos causando acidentes e 600 quase acidentes.
Ainda que tenhamos dados que apontam o caminho para um ambiente de trabalho seguro, na prática o que pode-se observar é a subnotificação, o que significa que há pouco aprendizado e dificuldade para as melhorias de segurança.
Assim sendo, uma empresa com poucos incidentes relatados pode, de fato, ser menos segura do que aquela em que incidentes são relatados e lições são aprendidas (COLIN, 2017).
Não se pode ignorar que comunicação de incidentes é o maior desafio da cultura organizacional na sociedade moderna.
Cultura organizacional e os incidentes
Comunicar incidentes é vital, uma vez que, eleva o nível de conscientização da força de trabalho de todos os níveis, não apenas do operacional, pois muitos acidentes ocorrem envolvendo profissionais de setores administrativos, e estes não devem ser ignorados.
Muitos trabalhadores podem não relatar os incidentes devido a fatores como:
- equipamento/máquina com defeito;
- comportamento inadequado (assédio, bullying, etc);
- falta de equipamentos de segurança, treinamento e controle adequados;
- não receber feedback;
- não serem reconhecidos como parte da gestão;
- ações tomadas apenas quando ocorrem acidentes graves;
- punições.
É crucial que os incidentes sejam relatados imediatamente ou pelo menos no dia de sua ocorrência, independentemente de sua gravidade.
Análise e investigação de incidentes
As investigações dos incidentes geram valor para o conhecimento organizacional, promove a melhoria através das medidas corretivas e preventivas; que são tomadas em tempo; prevenindo a ocorrência de acidentes graves.
Deve-se considerar que incidentes, supostamente de menor gravidade podem ser indícios de um problema muito maior.
Os relatórios de análise e investigação de incidentes são fontes valiosas de dados estatísticos que fornecem evidências reais, que podem ser usados para tomadas de decisões para avaliar se é necessário treinamento adicional, melhores equipamentos e / ou novas estratégias para que a organização suba de nível.
Comunicação, monitoramento e medição de incidentes
Se os incidentes não forem registrados, a agonização perde uma grande vantagem de promover melhorias e prevenir acidentes graves.
Os relatórios e registros são requisitos legais para acidentes, mas quando trata-se de incidentes; muitos ignoram o poder que o monitoramento desses pequenos eventos podem gerar na cultura organizacional.
Quando se investiga os incidentes, descobertas de onde e como os riscos surgem torna-se a base para prevenir que outro ocorram com maior gravidade.
Informações sobre acidentes, incidentes e problemas de saúde podem ser usadas como auxílio à avaliação de riscos, ajudando a desenvolver soluções para riscos potenciais.
Os registros também ajudam a prevenir lesões e problemas de saúde, além de controlar os custos decorrentes de perdas acidentais.
Monitorar e tratar os dados com cuidado possibilita identificar as maiores causas, os principais perigos e riscos inerentes a todos os níveis da organização; dando uma visão que muitas vezes fica limita a um grupo de profissionais.
Para concluir, muitas organizações perdem contratos ou novas oportunidades pelo simples fato de não dar a devida importância ao que parece óbvio; e que de fato, trata-se da construção de uma cultura prevencionista. Dar valor à comunicação de incidentes, fará o desafio da cultura organizacional ser menos pesado, e trará benefícios na redução de perdas e maior lucratividade.
Referências
Barnett, Arnold, and Alexander Wang. 2000. “Passenger mortality risk estimates provide perspectives about flight safety.” Flight Safety Digest 19 (4): 1–12.Disponível em:<https://flightsafety.org/fsd/fsd _apr00.pdf.
Colin Morrish,Incident prevention tools–incident investigations and pre-job safety analyses,International Journal of Mining Science and Technology,Volume 27, Issue 4,2017. Disponível em:<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2095268617303476>.